quarta-feira, novembro 23, 2005

MY friend must be a bird, Because it flies! Mortal my friend must be, Because it dies! Barbs has it, like a bee.
Ah, curious friend, Thou puzzlest me!
Emily Dickinson - 1924

quinta-feira, novembro 17, 2005

OBEDECER-SE

Certa vez Clarice Lispector escreveu que quando escrevia ia apenas se obedecendo. Gostei tanto disso. Acho que isso é o que torna alguém autêntico: ir se obedecendo. Em tudo ser fiel à si mesmo. Parece simples, mas é um exercício diário. Tem gente que se protege tanto de si e dos outros, cria tantas couraças e fabrica tantos trejeitos, que já não sabe onde encontrar-se e acaba se perdendo, se desobedecendo. Tá certo que tem um preço, mas acho que vale a pena pagá-lo. Custa o desconforto, o desajuste, sentir-se incompreendido certas vezes, inadequado...mas já é tudo tão inesperado e desprovido de compromisso nessa vida, que o único comprometimento verdadeiro deve ser aquele à si mesmo. Acho que me tenho obedecido bastante nas coisas da vida e talvez seja essa a verdadeira e maior rebeldia possível.

domingo, novembro 13, 2005

Um dia de cada vez ...


Um dia de cada vez é tudo que temos realmente à nosso dispor e saber que cada dia é uma dádiva já é um motivo único pelo qual respirar, mas infelizmente isso não é o suficiente. A verdade é que nada importa além do agora , mas precisamos de algo que nos dê a noção de atemporalidade, e nos faça sentir maiores que o tempo e adequados à extensão que tem nossa alma. As coisas burocráticas e materiais serão então realizadas, mas o que sempre ficará nos motivando a cada dia e ficará ali permeando as horas, costurando os segundos e sobrevivendo além do tempo é o que sentimos no nosso íntimo, o que só a gente sabe e percebe e que é pessoal e intransferível: um amor, um objetivo maior, um porquê ...enfim, algo que transpõe-se a nossa condição humana e nos conduz a eternidade, a algo que poderá se tornar nosso legado.
Por isso eu sei que preciso escrever agora, sei que angústias e agruras me motivaram à isso hoje. Sei de certas coisas que preferia não saber, mas são essas coisas não ditas que me motivam a viver e adequar minha existência a uma alma que não cabe neste corpo. Continuo então e amanhã virá trazendo novas respostas às minhas suposições e certezas e só o que posso fazer é aceitar o que não posso alterar no mundo e alterar em mim o que posso através do mundo que tenho. Torço para que estas minhas pequenas contribuições diárias em fidelidade à minha essência possam um dia representar algo significativo, algo que se visto de perto, se esmiuçado, não tenha passado de uma vida vivida um dia de cada vez.

terça-feira, novembro 08, 2005


AMO

Amo com uma calma que antes não tinha
E com uma certeza ...
Com uma serenidade na qual tudo se alinha
E com clareza

Amo, porque sei o que é não poder amar de perto
E por outras tantas razões " que a própria razão desconhece "
E com avidez, de ter lago depois do deserto
E com a solidez do que permanece

Amo nem demais, nem de menos
É amor em dose exata
Amor equilibrado, de Vênus
Pelo qual ninguém morre, nem mata

Amo simplesmente e amo esse amar tão perfeito
real, sem mentira ou mito
sereno e direito
Amo, amo, amo ... e tenho dito!

segunda-feira, novembro 07, 2005

EU

Sei quem sou hoje e quem ainda posso me tornar. Espero poder ainda ser esse alguém que eu sei que posso vir a ser sem me lamentar por não ter sido quem gostaria, nem querer me tornar um alguém impossível. Já diziam: “querer é poder”, eu diria que querer é poder ser. Acho que nos tornamos aquilo que acreditamos ser. Encarnando um papel esperado pelos outros ou uma posição confortável (ou não) encontrada e ali ficamos desempenhando o papel de sermos nós, ou um tipo nós que acreditamos e fizemos todos acreditarem que somos. Não quero me iludir com expectativas erradas de mim mesma, nem tampouco me frustrar com decepções geradas pelo medo de ser do tamanho que sei que sou. Quero apenas sentir que estou ocupando meu espaço nessa existência e até sendo um pouco espaçosa de vez em quando. Eu sei quem sou, mas não estou satisfeita, porque ainda não me tornei da dimensão exata que me conheço. Portanto, continuarei aqui tentando essa árdua tarefa de me tornar eu mesma. Não é fácil. Como cantou Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Dói , mas continuo tentando.