domingo, setembro 16, 2012

Sucesso?


É preciso uma dose de desatinos, desencontros, desalinho, para enfim ter alguma consciência maior do que nos cerca e do próprio caminho a seguir. Uma epifania não vem tão fácil. Ninguém tem revelações catárticas nem insights transformadores, sentado em sua poltrona bege-claro-socialite-abatida, ostentando um sorriso amarelo-gemada no rosto e um quadro do Romero Brito na parede, sendo retratado numa matéria da Caras (e bocas). Não que a desgraça deva ser exaltada e o mérito alienante que a Caras tem- para um momento consultório do dentista - seja desmerecido, mas falando de seres humanos e não posters, nunca vi quem conseguisse deixar rastro pelo mundo ter vindo de uma trajetória aconchegante. Nunca vi real sucesso sem grandes insatisfações ou perdas. Não tô falando daquele sucesso de filme americano, nem do pote de ouro no fim do arco-íris, mas do sucesso que é tão pessoal, tão interno que só se sabe sussurrado como uma prece antes de dormir, e pra si mesmo. É aquele sucesso que se ambiciona calado, por pulsar, ter som que só a alma ouve. Intransponível pra palavras. Aquele sucesso que quando atingido nos faz dormir bem. Aquele de se conseguir atingir o âmago, a essência das próprias buscas e começar a ser. Simplesmente ser. Como o dos animais que seguem sendo sem arrogância, aceitando que são leões de ar imperial e devorador, as formigas sua sina de operárias, os animais domésticos sua devotada dependência dos donos e a natureza de modo geral que segue exuberante sem questionar. Tão bem sucedida, tão íntegra porque comporta todo tipo de essência maior ou menor, expressiva ou sutil. Desse sucesso pouco se fala, porque não tem valor comercial, não rende troféus, nem condecorações. É quase o maior tesouro que se pode ter, mas que só tem valor pra uma pessoa. Poderia até criar novo significado agora, me valendo de neologismo pra essa palavra... Sucesso : excesso de seu; sensação de vitória experimentada em silêncio; glória quase religiosa, intangível; existir sem dúvidas.
Acho que é essa a busca de todos, mesmo de quem nem sabe o que tá buscando e sai trombando por aí com os sucessos terceirizados de um sonho americano.
Esse sucesso que se descobre olhando no espelho, que se revela no silêncio, que vem as custas da necessidade de ocupar seu espaço não apenas físico mas fincado, reivindicado, desse só se apropria quem tem cicatrizes, algumas rugas (independente da idade), algumas rusgas e alguns fracassos.